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Dia Mundial da Obesidade
Início 04/03/2023 às 00:00
Fim 04/03/2023 às 00:00
A obesidade vem crescendo de forma acelerada nos últimos 40 anos e se transformou em problema de saúde pública. A data de 4 de março, instituída como Dia Mundial da Obesidade, traz alertas, principalmente no que se refere ao percentual de pessoas acima do peso na cidade.

De acordo com estudo publicado em 2018 pela Vigilância de Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), vinculada ao Ministério da Saúde, mais da metade da população brasileira tem excesso de peso: 21,8% são homens e 29,5%, mulheres. A situação se reflete em Juiz de Fora, cenário analisado pela endocrinologista e pela nutricionista do PAM Marechal, Gisele Caneschi e Saraline da Silva Correia, respectivamente, que defendem o desenvolvimento de políticas públicas voltadas para a prevenção da doença, além de educação em saúde, estimulando a autonomia e o autocuidado.

Obesidade e Covid-19

O sobrepeso e, principalmente, a obesidade, implica em maior risco para outros problemas de saúde, como diabetes mellitus tipo 2, alterações do colesterol, hipertensão arterial, depósito de gordura no fígado, alguns tipos de câncer, entre os quais mama, fígado e útero, e doenças cardiovasculares, como infarto e acidente vascular cerebral. Gisele Caneschi afirma ser “inegável a relação da doença com apresentações mais graves da Covid-19, já que a obesidade representa um estado inflamatório crônico de base”.

O preconceito é um dos problemas enfrentados pelos obesos. As pessoas, de modo geral, aceitam melhor o indivíduo que consegue perder peso por iniciativa própria. Gisele esclarece, entretanto, que a obesidade é uma doença e deve ser tratada como tal. Para combatê-la, ela recomenda que o paciente procure ajuda profissional, em alguns casos um tratamento multidisciplinar, com acompanhamento a longo prazo por endocrinologista, nutricionista e psicólogo.

A profissional pondera que a pessoa pode precisar de medicamentos, assim como pacientes que enfrentam outras enfermidades e, em alguns casos, de acesso à cirurgia bariátrica. Gisele ainda alerta para a necessidade do aumento do número de médicos especialistas na rede a fim de atender a demanda reprimida.

Tratamentos e cuidados

Em relação à medicação usada, houve avanços. A médica explica que remédios eficazes reduzem, em média, 15% do peso corporal, diminuindo principalmente a gordura abdominal, mais danosa para a saúde. “Novos medicamentos diminuem o apetite e controlam melhor a alimentação por facilitar preferências mais saudáveis e aumento da saciedade”, disse.

Um trabalho de conscientização sobre medidas preventivas é recomendado pela médica. Ela fala em reeducação alimentar individualizada, com preferência para alimentos in natura em detrimento dos industrializados, que são mais calóricos e têm menor conteúdo nutricional. Gisele reforça a importância de evitar distrações durante as refeições, o que ajuda na percepção da quantidade de alimento ingerida.
A prática de atividades físicas regulares, o controle do estresse e da ansiedade e a melhoria na qualidade do sono também são recomendados pela endocrinologista que esclarece sobre como a insônia pode aumentar o apetite e a preferência por alimentos mais palatáveis, ricos em açúcar e gordura.

A nutricionista Saraline da Silva Correia, do PAM Marechal, alerta que “a maioria de nossas ações se resumem ao toque de um teclado, seja do computador, do controle remoto ou do celular, permitindo diversão, consumo de alimentos e até relacionamentos sem a necessidade de movimento físico”.

A redução dos deslocamentos aumenta o comodismo e o sedentarismo, o que provoca ganhos excessivos de peso. “A situação é agravada pela facilidade de acesso aos alimentos ultraprocessados de baixo valor nutricional e alto índice calórico. Experiências e pesquisas têm mostrado que, apesar dos esforços e investimentos para prevenir e tratar a obesidade, os números só crescem,” afirma.

A nutricionista trata como equivocada a postura dos que pensam que para resolver o problema basta “fechar a boca e fazer exercício físico. Não tenho dúvidas de que a alimentação e a atividade física contribuem, e muito, para o alcance e manutenção de um peso saudável. No entanto, achar que é simplesmente restringindo a alimentação e se exercitando mais que vamos resolver a obesidade é um pensamento muito reducionista”, assinalou.

Saraline ainda pondera que dietas restritivas podem atrapalhar mais do que ajudar. A curto prazo, funciona para a perda de peso, mas ela esclarece que não é uma prática sustentável e traz consequências negativas para a saúde física e mental, como o reganho do peso perdido, alteração do metabolismo e riscos de desenvolver transtornos alimentares.

O tratamento da obesidade é complexo e costuma envolver especialistas de diversas áreas. “Não existe fórmula mágica para perda de peso, porém, algumas atitudes podem contribuir na prevenção e no cuidado da doença.”

Sugestões da nutricionista

- Reduzir o consumo de alimentos ultraprocessados é essencial, pois são ricos em açúcares, gorduras ruins e aditivos químicos. É necessário adotar uma alimentação mais caseira e variada. De acordo com o guia alimentar brasileiro, embora legumes, verduras e frutas possam ter preço superior ao de alguns alimentos industrializados, os cálculos realizados, com base nas Pesquisas de Orçamentos Familiares do IBGE, mostram que o custo total de uma alimentação baseada em alimentos in natura ou minimamente processados ainda é menor do que o custo baseado em alimentos ultraprocessados. Saraline recomenda dar preferência aos alimentos da safra, por serem mais acessíveis, nutritivos, saborosos e custo reduzido;

- Fazer as pazes com a comida e o corpo, tirando o foco do peso e investindo em qualidade de vida, é fundamental;

- Outra dica é procurar comer sem distrações, desligando a televisão, o computador e o celular durante as refeições. É preciso ouvir os sinais de fome e saciedade e finalizar a refeição quando estiver satisfeito;

- Nenhum alimento, por si só, será responsável pelo ganho de peso, como também não existe nenhum alimento milagroso que faça emagrecer. Se permitir comer com prazer e sem culpa é muito importante, assim como é preciso lembrar que comer “de tudo” é diferente de comer tudo o tempo todo”;

- A prática de exercícios físicos também é uma das melhores formas de manter uma vida saudável, mas é necessária uma consulta médica anterior;

- O preconceito agrava o quadro e distancia cada vez mais o paciente do tratamento. É preciso agir com respeito e sem estigma. O interesse no tratamento e prevenção da obesidade deve ser coletivo, envolvendo pessoas com obesidade, a sociedade, profissionais de saúde, educadores, governantes e indústria alimentícia.