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Pedreiro é confundido com bandido e passa 9 anos 'morto' em Mato Grosso
Notícias
Publicado em 21/02/2022

O próprio irmão de Paulo usava seus documentos, quando foi morto em uma tentativa de assalto

 

O pedreiro Paulo Roberto Gonçalves, 41 anos, morador de Campo Verde (a 131 km ao sul de Cuiabá), vive em um pesadelo desde outubro de 2021, quando descobriu que estava “morto”, ao tentar fazer uma compra no comércio da cidade.

 

 

Paulo também tentou tomar a vacina contra a covid-19 em uma unidade de saúde e foi impedido, pois gente morta não precisa de imunização. Começava aí uma luta pra provar que estava vivo.

Tudo começou em 26 de janeiro de 2012, em Sorriso (420 km ao norte de Cuiabá), onde o pedreiro nunca colocou os pés.

 

Naquele dia, um homem tentou assaltar um estabelecimento comercial em Sorriso, entrou em luta corporal com um segurança, foi asfixiado até a morte e foi enterrado com o nome do pedreiro. Uma Certidão de Óbito foi emitida em nome de Paulo Roberto Gonçalves.

 

“Fui fazer uma compra aqui em Campo Verde e meu CPF não estava dando certo, baixei um aplicativo de celular do SCPC Serasa, e lá constava que o titular era falecido. De imediato o espanto”, conta.

Mas o inusitado não para por aí. O assaltante morto no confronto com o segurança era irmão de Paulo e usava seus documentos há anos.

“Infelizmente, meu irmão estava usando indevidamente o meu nome e foi morto. Por mais errado que ele tenha sido, a gente sente pelo ente que se foi. Mas é um alívio, principalmente para minha mãe, que agora pode parar de procurar por ele. E vida que segue”, disse.

 

Natural de Diadema, região metropolitana de São Paulo, o pedreiro já morou em Presidente Prudente (SP), Campo Grande e Coxim, em Mato Grosso do Sul, e reside em Campo Verde desde 2003. Apesar de toda essa andança, nunca esteve em Sorriso.

A família dele entrou em desespero. A filha Ana Caroline da Silva Gonçalves ficou com medo do pai ser incriminado em algo que ele não tem responsabilidade. “A primeira coisa que eu pensei, foi ele ser preso por uma coisa que ele não fez”, confessa.

Casada há 21 anos com Paulo Roberto, Elisangela Moreira da Silva também ficou nervosa com a situação. “No começo a gente ficou meio preocupada. Como que uma coisa dessas acontece? Alguém usando o nome dele, ele dado como morto”, comenta.

 

Sem dinheiro para um advogado, Paulo Roberto procurou a Defensoria Pública, juntou documentos e pessoas que o conheciam para provar que estava vivo. Apenas 43 dias depois, a certidão de óbito em seu nome foi anulada.

A defensora pública Tânia Vizeu destacou a agilidade do julgamento e prolação da sentença. “Foi tudo muito rápido. A juíza prontamente designou perícia para semana seguinte ao recebimento da inicial, ainda em dezembro. No dia 26 de janeiro a juíza sentenciou e já declarou a nulidade da certidão de óbito e determinou a apuração de irregularidades na lavratura da certidão de óbito”, afirma.

Paulo se diz surpreso com a celeridade e agora começa nova vida. “Eu preciso muito da minha documentação, eu preciso fazer uma cirurgia, eu não pude tomar a vacina do Covid, porque eu não tenho CPF, não podia tirar o cartão do SUS. A gente sempre ouve dizer que a Justiça é lenta. Mas eu não vi nada de passos de tartaruga, foi extremamente rápido”, comemorou.

DA REDAÇÃO REPORTER MT

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