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ONS quer volta do horário de verão para evitar “colapso” no consumo de energia
ONS quer volta do horário de verão para evitar “colapso” no consumo de energia
Por Administrador
Publicado em 09/07/2025 18:17
Notícias

O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) lançou nesta terça-feira (08.07) o Plano da Operação Energética (PEN) 2025-2029, documento que projeta um cenário desafiador para o atendimento da demanda de energia elétrica no Brasil, especialmente no horário de ponta — o início da noite —, nos próximos anos.

O estudo mostra que, se mantidas as atuais condições de suprimento, a capacidade de atender ao consumo nos horários de pico pode ser comprometida já no período seco de 2025. Com isso, o operador passou a considerar como “imprescindível” a adoção de medidas alternativas — entre elas, o eventual retorno do horário de verão, suspenso desde 2019, no governo Jair Bolsonaro (PL).

“A depender das projeções de atendimento para os próximos meses, a adoção do horário de verão pode, eventualmente, ser recomendada ao CMSE como uma ação imprescindível”, afirmou o ONS, em nota.

Desafios de curto e médio prazo

A principal preocupação do ONS está relacionada à crescente participação da energia solar na matriz elétrica. Por ser uma fonte intermitente — ou seja, sem controle pleno sobre a geração —, a solar tem ampliado o risco de desequilíbrio entre oferta e demanda, principalmente nos horários em que o sol já se pôs, mas o consumo ainda é alto.

O problema tende a se agravar nos próximos anos. O PEN 2025-2029 destaca que, durante o período seco de 2025, todos os cenários simulados indicam a necessidade de acionar usinas termelétricas além daquelas que operam continuamente por inflexibilidade.

Com a suspensão de um leilão de reserva de capacidade que estava previsto para 2024 — cancelado após questionamentos judiciais por setores não contemplados pelo edital —, restaram poucas opções imediatas. Segundo o ONS, a falta dessa contratação exigirá, além do acionamento de térmicas, o uso da reserva operativa: um volume mínimo de energia armazenada em hidrelétricas usado para estabilizar o sistema em casos de emergência.

Medidas sugeridas pelo ONS

O operador já havia alertado o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), em maio, sobre o risco iminente, e sugerido um pacote de medidas emergenciais. Entre elas:

Adoção do horário de verão, para deslocar o consumo da noite para períodos com maior geração solar

Mecanismo de resposta da demanda, com ressarcimento a indústrias que reduzam o consumo no horário de pico

Antecipação da entrada em operação de térmicas contratadas em 2021, previstas para 2026

Preservação de recursos hídricos nas bacias estratégicas para o período seco

Aceleração de obras estruturantes que aumentem a confiabilidade do sistema

Contratação de energia flexível é prioridade

O PEN também aponta que os desafios estruturais do sistema serão ainda maiores no médio prazo, e por isso defende que o país retome os leilões anuais de capacidade, priorizando usinas flexíveis e controláveis — como hidrelétricas, termelétricas de ciclo rápido e baterias — para garantir resposta eficiente às variações da carga.

Nesse contexto, o ONS critica os leilões que priorizam térmicas inflexíveis, como os exigidos pela lei de privatização da Eletrobras. Para o órgão, esse modelo pode agravar o problema de sobreoferta durante o dia, quando a geração solar atinge o pico, sem necessariamente ajudar nos horários críticos da noite.

“Com o crescimento das fontes intermitentes, novos desafios também surgiram para a operação”, afirmou Marcio Rea, diretor-geral do ONS. Segundo ele, a flexibilidade operacional será um requisito cada vez mais estratégico para a segurança do fornecimento de energia.

“Precisamos cada vez mais de flexibilidade no sistema, com fontes de energia controláveis, que nos atendam de forma rápida para termos o equilíbrio entre a oferta e a demanda de energia, especialmente nos horários em que temos as chamadas rampas de carga”, destacou Rea.

O documento apresentado nesta terça-feira serve de base para a formulação de políticas energéticas e para a tomada de decisão do governo federal e das agências reguladoras. As recomendações do ONS, especialmente em relação ao horário de verão e à contratação de capacidade, devem pautar as discussões técnicas e políticas nos próximos meses.

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