Um estudante indígena, de 20 anos, venceu um concurso de desenho de motos sofisticadas em Feliz Natal, a 538 km de Cuiabá. Ukupiu kaitsut Waura, de 20 anos, ganhou um skate e também foi selecionado para participar de um projeto de tecnologia e design, que visa criar games com foco em educação para trânsito.
Ukupiu disputou com outros 20 estudantes de escolas públicas e projetos sociais no município. Ele recebeu a premiação no dia 8 de dezembro, durante a abertura do "Natal Iluminado".
Os desenhos de motos foram avaliados por membros do Moto Clube Abutres, de Sinop, a 503 km da capital. O clube também é parceiro do projeto para criação dos jogos. Além disso, foi responsável pela premiação dos três primeiros colocados.
"Queremos dar continuidade ao projeto para ajudar outras crianças e envolver a cidade nas ações sociais do moto clube", disse Daniel Henrique Quennehen, responsável pela parte social do grupo.
Ukupiu, que é da etnia Waura e membro da Aldeia Aruak, localizado no Parque Indígena do Xingu, se mudou para Feliz Natal, em 2012, para continuar os estudos e concluir o ensino médio.
Ele disse ser apaixonado por motos. "Quando eu ainda estava na aldeia, assistia filmes que tinham esse tipo de moto e sempre gostei, meu sonho era conhecer um moto clube", contou.
O estudante disse ainda que não esperava ganhar e que ficou muito feliz com o resultado.
"Eu gostei muito de participar e meu desenho tem muito a ver comigo", disse.
Se continuar morando em Feliz Natal, vai participar do projeto de criação de jogos e se esforçar para se tornar um designer.
Os sonhos de UKupiu vão além. Este ano ele fez a prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e, se alcançar pontuação suficiente, quer fazer o curso de medicina.
"Quero ajudar as pessoas, como um dia eu precisei de ajuda", destacou.
Ao G1, Ukupiu contou que entre os anos de 2011 e 2012 foi acometido por uma paralisia, que o deixou acamado por um ano e seis meses.
"De repente, meus movimentos começaram a falhar, até que eu não conseguia mais andar. Os médicos diziam apenas que eu tinha uma paralisia e que viveria na cadeira de rodas o resto da vida", relatou.
No entanto, o tio, inconformado com o diagnóstico, levou o menino de volta para a aldeia, onde a avó dele o tratou com remédios feitos de raízes e chás.
"Durante seis meses não sentia minhas pernas, não sentia nada", lembrou.
Depois de cerca de cinco meses tomando os remédios feitos pela avó, Ukupiu começou a recuperar alguns movimentos e, com o apoio do tio, conseguiu dar alguns passos.
"Voltei a ser criança e dar uma passinho de cada vez. Ainda hoje não ando muito bem e não posso correr, mas estou melhorando", contou.
Em razão da doença, ele perdeu o ano letivo e, por isso, se considera atrasado nos estudos. "Já era para ter terminado, mas naquele ano não consegui estudar".
Foi nessa época que ele decidiu que estudaria medicina. "Nesse momento, percebi que muitas pessoas precisam de ajuda, assim como eu precisei. Quero estudar para isso", afirmou.
O concurso de desenho foi idealizado por Alcemir Fernandes, de 30 anos, um jovem autodidata que presta consultoria em tecnologia para empresários da cidade.
Apesar de não ter se formado em tecnologia da informação, decidiu partilhar com alunos carentes, por meio do projeto social FN Code Club, criado por ele, tudo que aprendeu, estudando sozinho.
Ukupiu, que concluiu o terceiro ano do ensino médio, este ano, estudava na escola assistida por Alcemir, e foi lá que recebeu o convite para participar do concurso.
"Qualquer aluno pode participar e o critério era desenho à mão livre sem copiar outros modelos. Eles poderiam pesquisar as motos, mas a criação tinha que ser deles", declarou.
A ideia de Alcemir é formar profissionais de designer que possam ajudá-lo em outros projetos educacionais.
Fonte: G1/MT