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'Não diminui sofrimento, mas a justiça foi feita', diz viúvo
Ao final do julgamento os familiares, visivelmente emocionados, se abraçaram em alívio, mas também em dor pelo trauma vivido.
Por Administrador
Publicado em 08/08/2025 17:20
Notícias

Esposo de Cleci Calvi Cardoso e pai de Miliane, 19, Manuela, 13, e Melissa, 10, mortas por Gilberto Rodrigues dos Anjos, em novembro de 2023, na cidade de Sorriso (420 km ao norte de Cuiabá), desabafou que, embora esteja satisfeito com a sentença final aplicada ao réu que matou sua família, nada fará com que as tenha de volta em sua vida. A fala foi feita minutos após o fim do julgamento, encerrado na noite de quinta-feira (7), onde Gilberto foi condenado a 225 anos de cadeia, totalizando agora 264 anos somadas a outras condenações por outros crimes.

 

“Foi uma sentença boa. Graças a Deus todos os jurados foram unânimes na condenação do réu. O juiz foi certeiro na sentença. Esses 225 anos ele vai cumprir 40 e com certeza não vai colocar os pés nunca mais fora da cadeia. Estou satisfeito, mas não muda pra gente, não vai trazer elas de volta, não vai diminuir o sofrimento, a saudade, mas a justiça foi feita hoje. Eu agradeço a Deus e a todos que participaram aqui”, disse.

 

Ao final do julgamento os familiares, visivelmente emocionados, se abraçaram em alívio, mas também em dor pelo trauma vivido. Também esteve no júri a senadora Margareth Buzetti (PSD), autora de leis impostantes de defesa da mulher, e que acompanhou toda a saga de Regivaldo Cardoso em idas a Brasília para sensibilizar parlamentares pela mudança das leis do feminicídio com penas mais rígidas.

 

Em vídeo publicado em sua rede social, Buzetti narrou uma sensação de “impotência” diante de todos os fatos ocorridos e se solidarizou com a família.

 

“Um homem perverso, mau, horroroso, que matou com requintes de crueldade 4 mulheres. Pegou 225 anos, o máximo que ficará será 40 anos. Penso na dona Sueli, mãe de Cleci e no seu Régis. Uma coisa inexplicável, a justiça dos homens foi feita, mas espero a justiça divina, pois só ela pode aliviar a dor no coração da família. O que eu vi hoje me deixou mais determinada a lutar por penas mais justas”, declarou.

 

O promotor de justiça Luiz Fernando Rossi Pipino exemplificou as qualificadoras que atenderam a sentença final. Gilberto utilizou de meio cruel, recurso que dificultou a defesa das vítimas em horário de repouso noturno, feminicídio não íntimo, vítimas menores de 14 anos, além da causa de aumento por serem praticados na presença de familiar.

 

“A premeditação também interferiu na dosimetria de pena. Estou no MP desde 2009 e nesses 16 anos nunca presenciei tanta maldade e nunca me deparei na maldade num estado tão brutal, personificado, de modo que não tenho a menor dúvida que foi o episódio mais assombroso da nossa cidade, estado e país. A justiça dos homens foi feita, condução do processo, um julgamento justo e condenado no que a lei permite, esperamos que ele cumpra o tempo máximo permitido de 40 anos”, analisou.

 

O advogado Conrado Pavelski Neto acrescentou que nem 500 anos seriam suficientes, pois não traria a família de volta, mas acredita que a pena foi justa. Ele ainda parabenizou o trabalho do promotor e analisou que todas as qualificadoras para os crimes foram aceitas pelos jurados, que não atenderam a explanação da defesa de Gilberto, que divergiu da questão do estupro de vulnerável para vilipêndio de cadáver. “Toda a acusação foi reconhecida, tudo que foi imputado a ele”, avaliou.

 

O júri 
O julgamento durou cerca de 10 horas. O júri começou pouco antes das 9h e o réu acompanhou a sessão por videoconferência, já que está preso na Penitenciária Central do Estado (PCE), na capital. Contudo, não quis prestar depoimento e deixou de assistir ao júri no período vespertino, não permanecendo até o final do próprio julgamento. 

A sessão foi presidida pelo juiz Rafael Deprá Panichella, da 1ª Vara Criminal de Sorriso e contou com 7 jurados. O caso tramitou em segredo de justiça por envolver vítimas menores de idade e o julgamento foi restrito a equipe do Poder Judiciário, advogados, defensores, familiares e parte da imprensa. 

Agora as penas de Gilberto somam 264 anos, pois além dos crimes contra a família Calvi Cardoso, ele havia sido condenado por assassinato em Mineiros em 2013 e uma tentativa de homicídio e estupro em Lucas do Rio Verde em 2023. 

 

Em 16 de maio deste ano, Gilberto foi condenado a 17 anos de prisão pelo homicídio do jornalista Osni Mendes Araújo, ocorrido em 2013, na cidade de Mineiros (GO). Ele chegou a ficar 6 meses preso pelo crime, mas conseguiu liberdade e não foi mais encontrado desde então.

 

Em 25 de março também de 2025, ele foi condenado pelo Tribunal do Júri de Lucas do Rio Verde (a 332km de Cuiabá) pelos crimes de estupro, tentativa de feminicídio e lesão corporal qualificada pela violência de gênero, cometidos em 17 de setembro de 2023.

 

Na data em questão, por volta das 2h da madrugada, ele invadiu a residência de uma mulher e, mediante violência e grave ameaça, a obrigou a manter relação sexual não consentida. Ele ainda tentou matá-la, porém, o ato não foi consumado porque a vítima entrou em luta corporal. A pena total aplicada foi fixada em 22 anos, 7 meses e 10 dias de reclusão.

 

O caso
O crime aconteceu na madrugada de sexta (24) para sábado (25) de novembro de 2023, quando Gilberto Rodrigues dos Anjos invadiu a casa das vítimas e cometeu os crimes. No dia do crime, o esposo de Cleci e pai das meninas, Regivaldo Batista Cardoso, estava em viagem a trabalho. Ao notar que a companheira e filhas não retornavam suas mensagens e ligações acionou a polícia.

 

Os corpos das 4 foram encontrados somente na manhã do dia 27 de novembro, com diversos ferimentos e sinais de violência sexual, com exceção da menor de 10 anos. Na época dos fatos, o réu trabalhava e morava em uma obra ao lado da residência das vítimas.

 

No local onde Gilberto dormia foram encontrados um par de chinelos compatível com as pegadas encontradas na casa, material genético do mesmo, roupas de uso pessoal, uma peça íntima feminina das vítimas. Na delegacia ele confessou os crimes em depoimento.

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